Brevemente

Galo

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Por Maria Manuela d'Oliveira Martins
Diretora do Museu do Oriente

 

Ao galo são atribuídas diversas simbologias nas culturas ocidentais e orientais. Em todas elas, está universalmente ligada aos cultos solares, porque o seu canto anuncia o nascer do sol.

Mas é na China que o galo ganha maior relevo, quer pelas suas características físicas, pela altivez, quer pelo comportamento, o que permite atribuir-lhe cinco virtudes, a saber: a virtude civil, representada pela crista que lhe confere um aspecto mandarinal; a virtude militar, graças ao esporão, símbolo da valentia; a coragem, manifestada pelo seu comportamento em combate (nos países onde a luta de galos é permitida); a bondade, pela partilha da comida com as galinhas; a confiança, pela segurança com que todos os dias anuncia a aurora.

Neste país o galo é o décimo animal do zodíaco chinês ao lado do rato, do búfalo, do tigre, do coelho, do dragão, da serpente, do cavalo, da cabra, do macaco, do cão e do porco. No ano de 2017, acabará o ano do macaco e iniciar-se-á o ano do galo.

Os galos, na China, não se comem, nem se matam. São considerados animais protectores contra os demónios. Ter uma pintura em casa representando um galo vermelho constitui uma boa protecção contra o fogo. Colocar num caixão um galo branco afasta o defunto dos demónios.

Na mitologia chinesa, são-lhe ainda atribuídos os significados de seriedade, pois nunca falha na marcação das horas, e de força masculina. As lutas de galos, conhecidas, na China, desde o 1º milénio A. C., embora proibidas, tornaram-se um desporto muito popular no sul do país.

O seu canto simboliza a realização e a fama. A palavra chinesa "crista de galo" (guan) é homófona de "guan" que significa oficial. Uma oferta de um galo com uma crista vistosa representa o desejo de que o seu destinatário possa ser recompensado com um posto oficial.

Noutras culturas orientais, como na Índia, o galo é ainda o atributo de Skanda, no hinduísmo, que personifica a energia solar.

No Japão o papel do galo é também importante, estando o seu canto associado aos deuses, sobretudo a Amaterasu, deusa do Sol, que sai da caverna onde se esconde, atraída pelos raios do astro rei.

Nos grandes templos xintoístas, magníficos galos circulam em liberdade, sendo considerados sagrados. A palavra japonesa toril é considerada homófona de poleiro, lugar de destaque, por se referir ao local onde os galos se empoleiravam.

Os japoneses atribuem ao galo a virtude da coragem, o que também encontramos noutros países do Extremo Oriente, em que o galo tem um carácter benéfico.

As aves são símbolos de proteção, inteligência, sabedoria e fazem referência ao divino, uma vez que são mensageiras entre o céu e a terra. Representam também a alma porque ao voar libertam-se do mundo terreno.

No ocidente, o galo aparece associado ao sagrado. Na tradição helénica, por exemplo, o galo associa-se a deuses e deusas solares: Zeus, Apolo, Leto, e Artemisa

Já na tradição cristã o galo é o símbolo de Cristo, como a águia e o cordeiro, acentuando com particular relevo o seu simbolismo solar, a luz e a ressurreição. Como Cristo o galo anuncia a luz que sucede à noite. Encontra-se em cataventos nos cimos das cruzes das igrejas e das torres das catedrais, significando a supremacia do espírito sobre a matéria, a origem celeste salvadora. 

A missa do galo, rezada na noite de 24 para 25 de Dezembro corresponde ao momento em que se iniciava no hemisfério norte o aparecimento da estrela polar, ou seja, a ocorrência do solstício de inverno. O nascimento de Jesus significava o surgimento de uma nova luz para o mundo.

No Talmud judaico o galo é considerado o mestre da delicadeza, porque introduz o Sol com o seu canto.

No Islão o galo é objecto de uma veneração invulgar relativamente aos outros animais. O seu canto assinala a presença do anjo.

Muitos países a oriente a ocidente utilizam o galo como emblema nacional: a França, o Japão, Portugal.

 

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